Trigo ganha espaço como nova matéria-prima para produção de etanol no Brasil
Expansão da bioenergia no Sul amplia diversificação além da cana e do milho
O trigo começa a se firmar como alternativa viável para a produção de etanol no Brasil, impulsionado pela necessidade de ampliar o portfólio de matérias-primas e reduzir a dependência de culturas tradicionalmente concentradas em regiões específicas, como a cana-de-açúcar e o milho. A iniciativa avança sobretudo no Sul, onde a presença consolidada do cereal e a disponibilidade de subprodutos oferecem condições competitivas para viabilizar a nova rota tecnológica.
A produção de etanol a partir do trigo utiliza resíduos e frações do grão geradas no processamento para alimentos, hoje subaproveitados. A prática, já difundida em países europeus, amplia o conceito de economia circular e pode reforçar a oferta de biocombustíveis em um cenário de demanda crescente por alternativas de menor impacto ambiental. No mercado doméstico, a tecnologia começa a ganhar escala com a implantação da primeira unidade dedicada ao cereal.
Primeira usina de etanol de trigo do país inicia operação no RS
A CB Bioenergia concluiu a instalação da primeira usina nacional destinada ao processamento de trigo para etanol, em Santiago, no Vale do Jaguari. O empreendimento, que soma investimento de R$ 100 milhões, recebeu a licença de operação emitida pela Fepam e aguarda vistoria da ANP para iniciar a produção comercial, prevista para janeiro de 2026.
A planta ocupa área de 150 mil m² e conta com dois pavilhões industriais destinados ao processamento do grão. A capacidade inicial é de 43 mil litros diários, o equivalente a cerca de 12 milhões de litros por ano. A produção será direcionada a etanol hidratado, etanol neutro e CO₂ para indústrias, além do fornecimento de DDGS e WDGS utilizados na formulação de rações. A operação deve gerar aproximadamente 60 empregos diretos e indiretos e ampliar a movimentação econômica do município.
O projeto já dispõe de trigo estocado para garantir três meses de processamento. Embora o cereal seja o foco inicial, a usina foi construída para atuar com outras matérias-primas, como triticale, cevada, centeio e milho. Há, ainda, conversas com entidades do setor orizícola para avaliar a viabilidade de produção a partir de subprodutos do arroz.
A licença estadual contempla todas as etapas industriais, desde a recepção e pesagem da matéria-prima até a fermentação, destilação, retificação e armazenamento do etanol produzido. O governo gaúcho considera o empreendimento estratégico para ampliar a matriz energética limpa e agregar valor à produção agrícola regional, reforçando políticas de transição energética e de estímulo à industrialização local.
O avanço do trigo como insumo para etanol abre uma nova frente de diversificação para o setor de biocombustíveis e cria oportunidades produtivas em regiões onde a cana não é competitiva, ampliando a participação do Sul na rota nacional da bioenergia.
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