Herdeiro ou sucessor? O dilema que desafia o campo e os negócios familiares

Governança é o pilar que separa tradição de continuidade, afirmam especialistas
A sucessão no agronegócio tornou-se um dos principais pontos de atenção para o futuro da produção no país. Com apenas 30% das empresas familiares chegando à segunda geração e 5% ultrapassando a terceira, a ausência de governança ameaça tanto grandes grupos industriais quanto propriedades rurais de médio porte.
Durante o Painel “Governança em Foco: A Sucessão como Pilar de Longevidade”, promovido pela Visão Agro no Vision Tech Summit – Indústria do Amanhã, realizado nos dias 8 e 9, em Ribeirão Preto – SP, Mariana Salomão, sócia do Brasil Salomão e Matthes Advocacia, destacou que o primeiro passo é distinguir “herdeiro” de “sucessor”. “Nem todo herdeiro está preparado para liderar. A sucessão exige preparo, regras e critérios claros. A governança é quem define isso”, afirmou.
A advogada relatou que a falta de estrutura provoca distorções, como filhos que assumem cargos apenas pelo sobrenome, desmotivando equipes e gerando atritos familiares. Para ela, o modelo ideal exige planejamento, Job Rotation – que permite vivenciar a prática em múltiplas áreas da empresa – metas e formação técnica. “Governança é manual de instruções. Ela garante transparência, define quem decide e evita que o emocional da família contamine o negócio”, resumiu.
No campo, o desafio é ainda maior. O êxodo rural e a falta de sucessores têm levado à estagnação de muitas propriedades. Para Mariana, o segredo está em profissionalizar a gestão desde cedo. “A sucessão não deve ser improvisada — ela precisa ser construída com método, não com pressa”, ressaltou.
Superintendente da Dedini afirma que continuidade depende de preparo, e não de obrigação
A executiva Cloé Dedini, superintendente corporativa da Dedini, afirmou que governança é sinônimo de estrutura, propósito e disciplina. Em participação no mesmo painel, que teve mediação de Alexandre Ramos (Mahal), CEO da Visão Agro, ela defendeu que o processo sucessório deve ocorrer de forma natural, com base em preparo e escolha pessoal.
“Governança é arrumar a casa. Sem padrão e sem processo, não há como melhorar”, afirmou. Cloé contou que passou por outras empresas antes de ingressar na Dedini — experiência que considera essencial para entender gestão e liderança fora do ambiente familiar. “Nunca fui pressionada a trabalhar na empresa. Entrei porque quis e porque me identifiquei com o propósito”, disse.
Ao assumir a superintendência, enfrentou uma invasão hacker que paralisou as operações. O episódio, segundo ela, consolidou o papel da governança como instrumento de reação e reorganização. “A crise mostrou a importância de processos claros. O caos, quando bem administrado, se transforma em aprendizado”, afirmou.
Para Cloé, o sucesso da sucessão está no diálogo e na ausência de imposições. “A nova geração precisa querer continuar o legado — não carregar o peso dele. O que sustenta uma empresa centenária é a combinação entre estrutura e propósito”, concluiu.
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