Açúcar vive onda baixista e etanol se firma na entressafra, aponta Agro Mensal do Itaú BBA
Relatório destaca normalização parcial das precipitações, revisão altista da oferta global de açúcar e preços do etanol sustentados por menor disponibilidade
O Agro Mensal do Itaú BBA indica que, a partir de novembro, o regime de chuvas voltou a ganhar maior regularidade no Centro-Oeste, Norte e parte do Sudeste, reduzindo parte do atraso acumulado durante outubro. A consolidação da estação chuvosa nessas regiões permitiu avanço mais consistente da semeadura de soja e milho, especialmente em áreas que enfrentaram déficit hídrico no início da primavera. Minas Gerais, em especial o Cerrado Mineiro, começou a recuperar a umidade apenas neste mês, favorecendo nova florada do café e retomada das operações de campo.
Já no Sul, o cenário inverteu: após volumes elevados no final do inverno e início da primavera, novembro tende a ser mais seco, sobretudo no Rio Grande do Sul. O banco destaca que, por ora, o quadro favorece tanto o avanço do plantio das culturas de verão quanto a conclusão da colheita do trigo, sem grandes restrições. A expectativa é de uma La Niña de fraca intensidade e curta duração, o que limita a probabilidade de impactos climáticos severos.
O relatório alerta, porém, que o excesso de umidade em novembro no Centro-Norte pode encurtar a janela de plantio da segunda safra, caso as chuvas se prolonguem até dezembro. Há também maior risco fitossanitário, devido à maior incidência de doenças fúngicas e pragas. Na Argentina, o excesso de chuva segue atrasando o plantio da soja e tende a persistir durante o mês, com normalização prevista apenas entre dezembro e janeiro.
Sugar Week redefine sentimento global e pressiona preços
O Itaú BBA relata que o mercado de açúcar viveu, em outubro e novembro, um ajuste relevante na percepção de oferta. A “Sugar Week”, realizada em São Paulo, consolidou uma visão baixista ao evidenciar que a próxima safra global deve registrar produção elevada em diversas regiões. Os preços internacionais caíram 10,4% em outubro, para USDc 14,43/lb, rompendo o piso de USDc 15/lb. Apesar de recuperação de 3,7% na primeira quinzena de novembro, o mercado segue operando sob sentimento de excesso de oferta.
A consultoria elevou sua estimativa de superávit global de 1,7 para 2,4 milhões de toneladas na safra 2025/26. A principal revisão ocorreu na Índia: o primeiro leilão de compra de etanol pelas petroleiras mostrou redução significativa da oferta de etanol à base de cana, ampliando o açúcar disponível. A participação do etanol de grãos no programa indiano subiu para 72%, enquanto a do etanol de cana caiu para 28%. Com isso, a produção estimada subiu de 31,0 para 31,5 milhões de toneladas.
Na Europa, condições climáticas mais favoráveis elevaram a produtividade da beterraba, levando a estimativa de UE27 + Reino Unido para 15,9 milhões de toneladas. No Brasil, as exportações alcançaram recorde histórico em outubro, com 3,6 milhões de toneladas, o que deve reduzir a demanda residual nos meses seguintes, quando a Ásia concentra suas compras.
Etanol ganha papel de sustentação e pode limitar queda do açúcar
Apesar do aumento da oferta global, o Itaú BBA destaca que o etanol brasileiro voltou a ganhar relevância como fator de sustentação dos preços do açúcar. Em açúcar equivalente, o etanol atingiu USDc 17/lb em meados de novembro, estimulando parte das usinas a elevar o mix do biocombustível, sobretudo na reta final da safra. Caso essa tendência se prolongue, o mercado global pode retornar ao déficit, reposicionando preços em patamar mais próximo da equivalência com o etanol.
O relatório lembra que a Índia, mesmo com maior disponibilidade interna, liberou apenas 1,5 milhão de toneladas para exportação, abaixo do pedido da ISMA, e os preços domésticos mantêm a paridade acima de USDc 19/lb, reduzindo a competitividade do açúcar indiano no mercado global.
Oferta menor sustenta preços do etanol na entressafra
O preço do etanol hidratado terminou outubro em R$ 2,89/l em Paulínia – SP, com nova alta no início de novembro. A redução de 4,9% no preço da gasolina pela Petrobras ficou abaixo das expectativas, o que ajudou a evitar pressões baixistas sobre o biocombustível.
A projeção para a safra 2025/26 indica queda de 6% na oferta total de etanol, com retração de 13% no etanol de cana e aumento de 16% no etanol de milho. Como o consumo doméstico também deve cair 6%, mas as vendas entre abril e outubro recuaram apenas 1%, boa parte do ajuste deve se concentrar entre novembro e março, período em que a oferta é mais restrita.
O Itaú BBA avalia que esse é um ambiente favorável a preços firmes na entressafra, ainda que com menor competitividade frente à gasolina, cujo preço passou a se estabilizar após ajustes recentes.
Fertilizantes recuam, mas estrutura de custos ainda inspira cautela
O relatório aponta que os preços dos fertilizantes começam a ceder: o MAP caiu 7,2% em outubro, para USD 640/t, menor valor desde março, enquanto a ureia se manteve em USD 422/t e o KCl registrou leve alta, para USD 355/t. As importações brasileiras seguem fortes, somando 35,6 milhões de toneladas entre janeiro e outubro, com clara mudança no mix: alta de 16% nas compras de SSP e TSP e queda de 24% em MAP e DAP.
No mercado internacional, a Índia contratou apenas 600 mil das 2 milhões de toneladas de ureia previstas em seu leilão, o que reduz a percepção de normalização da oferta e sugere novas compras a preços mais altos. Para os fosfatados, a demanda fraca ainda pressiona para baixo, mas o custo do enxofre, que mais que dobrou no Brasil em 2025, segue como risco de pressão altista, já que é insumo essencial para a produção de MAP.
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