Queda nas cotações e impacto das condições climáticas no Brasil são focos no mercado de açúcar

Com o avanço produtivo em países-chave, a oferta global do alimento continua crescendo
O mercado de açúcar encerrou 2024 com uma tendência de baixa em Nova Iorque, refletindo um declínio de mais de 6% no ano. O contrato do açúcar #11 terminou próximo de US$ 19 centavos por libra-peso, registrando níveis ainda mais baixos para os vencimentos futuros.
Diversos fatores contribuíram para esse movimento, com destaque para o Brasil. As chuvas intensas entre novembro e dezembro no Centro-Sul superaram a média histórica em mais de 20%, impulsionando a recuperação da umidade do solo e da vegetação. Esse cenário favoreceu o desenvolvimento da cana e reforçou a percepção de uma entressafra sem impactos negativos. Além disso, o final da safra 2024/25 surpreendeu positivamente, dissipando qualquer perspectiva de quebra severa na produção.
Com o avanço produtivo em países-chave, a oferta global de açúcar continua crescendo. A recuperação na Tailândia, a liberação de exportações pela Índia e um início de safra promissor na China contribuíram para a pressão baixista no mercado. Além disso, produtores do Hemisfério Norte, especialmente na União Europeia e Reino Unido, ampliaram seus excedentes exportáveis, reduzindo a demanda por importação de açúcar bruto.
Segundo a StoneX, a estimativa para o saldo global de açúcar em 2024/25 (out-set) foi revisada para 1,95 milhão de toneladas, abaixo do superávit de 3,1 milhões registrado em 2023/24. A produção global deve atingir 195,5 milhões de toneladas, enquanto o consumo projetado ficou em 193,6 milhões de toneladas, um leve crescimento de 0,7%.
O governo indiano anunciou a liberação de 1 milhão de toneladas para exportação em 2024/25, trazendo pressão adicional para os preços. Até janeiro, a produção acumulada no país alcançava 13 milhões de toneladas, uma queda anual de 12,3%. O atraso no início das operações, especialmente em Maharashtra, e o aumento do desvio da cana para a produção de etanol impactaram negativamente a safra.
As preocupações persistem devido à incidência da doença da podridão vermelha em Uttar Pradesh, que reduziu o acúmulo de açúcares na cana. Atualmente, a estimativa da StoneX para a produção indiana em 2024/25 foi ajustada para 28,4 milhões de toneladas, representando uma retração de 11,3% em relação ao ano anterior.
Na Tailândia, a moagem de cana atingiu 46,9 milhões de toneladas até o final de janeiro, um aumento de 6,5% sobre a temporada anterior. O país deve fechar o ciclo com uma produção de 11,1 milhões de toneladas, alta de 26,6%. A China também teve um início de safra positivo, acumulando 4,4 milhões de toneladas até dezembro, um dos melhores desempenhos dos últimos 15 anos.
Entretanto, apesar do bom desempenho inicial, a safra chinesa pode ser impactada por condições climáticas mais secas no primeiro trimestre de 2025, acelerando o fim da colheita. Além disso, a decisão do governo chinês de restringir a importação de açúcares líquidos e pré-misturados pode alterar a dinâmica do mercado, aumentando a demanda por açúcar bruto.
As projeções para 2025 indicam um mercado superavitário, com excedentes de açúcar pressionando os preços. A União Europeia prevê um aumento de 7,1% na produção, atingindo 17,6 milhões de toneladas, enquanto os Estados Unidos e México devem expandir sua oferta combinada. No entanto, a produção mexicana apresenta atrasos que podem influenciar o equilíbrio do mercado norte-americano.
O Brasil deve manter sua forte participação nas exportações globais, com previsão de embarques entre 33 e 35 milhões de toneladas em 2025. Contudo, essa estimativa depende do desempenho da moagem no Centro-Sul e da evolução das condições climáticas.
Com uma relação estoque/uso projetada em 40,8%, o maior nível desde 2020/21, o mercado global de açúcar segue pressionado por fatores baixistas. A trajetória de preços indica uma possível estabilização abaixo de US$ 19 centavos por libra-peso nos contratos futuros, consolidando um cenário de ampla oferta e menor demanda por importações.
A atenção do mercado agora se volta para os desdobramentos das safras na Índia e Tailândia, além da dinâmica de exportação do Brasil, fatores que serão determinantes para o comportamento dos preços ao longo do ano.
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