Mapa global do açúcar expõe disparidade de custos e pressões regionais

Levantamento mostra Brasil na liderança de competitividade, enquanto China e Europa enfrentam custos acima de US$ 750 por tonelada
As diferenças no custo de produção de açúcar entre os principais polos produtores continuam a definir a competitividade global do setor. Enquanto o Brasil mantém a dianteira com custos estimados em US$ 335 por tonelada de açúcar bruto (15,2 c/lb), regiões como Europa e China registram níveis mais do que o dobro, superando US$ 750 por tonelada para o açúcar branco.
A atualização mais recente sobre custos globais da Czarnikow (CZ), empresa global de gerenciamento da cadeia de suprimentos no setor de alimentos e bebidas, conduzida pela analista Ana Zancaner, avalia uma amostra que responde por mais de 60% da produção mundial. O estudo evidencia o impacto de fatores como variações cambiais, preços da cana e da beterraba e políticas de remuneração agrícola.
Índia: pressão regulatória, mas custos estáveis em dólar
Na Índia, o custo de produção do açúcar bruto está em torno de US$ 420/tonelada, FOB, em Maharashtra, principal polo exportador. Em moeda local, o aumento foi constante, influenciado pelo Preço Justo e Remunerativo (FRP) que as usinas são obrigadas a pagar aos agricultores. O governo reajusta o FRP anualmente, com alta de 8% em 2024/25 e 4,5% já confirmada para 2025/26.
Apesar da escalada em rúpias, a desvalorização cambial manteve a competitividade em dólares. As usinas ainda se beneficiam da diversificação: as receitas com etanol e eletricidade reduzem o ponto de equilíbrio em cerca de US$ 50/tonelada (2,2 c/lb).
Europa e Reino Unido: altos custos, mas ganhos com subprodutos
Na União Europeia e no Reino Unido, mesmo os mercados mais competitivos — como França, Alemanha e Polônia — operam com custos entre US$ 750 e US$ 850/tonelada para o açúcar refinado. A valorização das moedas locais encarece ainda mais em dólares.
A queda dos preços da beterraba e da energia deve aliviar custos na safra 2025/26, resultando em uma redução de 5% a 10% nos custos em dólar. Por outro lado, a remuneração mais baixa desestimulou agricultores, levando a um recuo de 7% no plantio de beterraba para a próxima safra. A receita com subprodutos — derivados do fatiamento da beterraba — pode reduzir o ponto de equilíbrio em até US$ 150-200/tonelada.
Tailândia: alívio nos custos projetados para 2025/26
Na Tailândia, os custos de produção em 2024/25 foram estimados em US$ 420/tonelada para açúcar bruto e US$ 560/tonelada para refinado. O preço provisório da cana, fixado pelo governo em THB 1.160/tonelada, recuou 18,3% em relação ao ano anterior.
Para 2025/26, projeta-se nova queda, para THB 950/tonelada, o que deve reduzir o custo do açúcar bruto para US$ 360/tonelada (16,3 c/lb) e do refinado para US$ 480/tonelada. A produtividade do açúcar se mantém estável em torno de 11%.
Brasil: câmbio favorece competitividade, mas pressões internas persistem
O Brasil segue como referência global de competitividade, com custos médios de US$ 335/tonelada (15,2 c/lb) em 2024/25. Em dólares, houve recuo de 2%, efeito da desvalorização de 13% do real frente ao período anterior.
Em moeda local, no entanto, os custos subiram, pressionados por inflação, diesel mais caro (alta de 5% em média) e queda de produtividade agrícola. Para 2025/26, as mesmas variáveis devem continuar comprimindo margens, em um cenário de preços mais baixos para açúcar e etanol.
China: custos elevados e dependência da cana local
A China, guiada pela política de manter 70% de autoabastecimento em açúcar, enfrenta custos acima de US$ 775/tonelada para o açúcar cristal de cana. O governo elevou os preços pagos aos produtores em 6% em Guangxi e 11% em Yunnan, regiões que concentram 80% da produção nacional.
Se, por um lado, os preços incentivam agricultores, por outro aumentam o custo final, reforçando a dependência chinesa de políticas de subsídio para manter a oferta doméstica.
Cenário global
A disparidade entre os custos reforça o papel do Brasil como fornecedor mais competitivo, ao passo que China e Europa seguem limitados por políticas agrícolas e custos de insumos. A Tailândia desponta como player de médio custo, com tendência de redução, e a Índia mantém estabilidade cambial como diferencial estratégico.
Para analistas, o setor global de açúcar continuará sendo impactado por moedas, políticas agrícolas e energia, o que coloca pressão sobre margens, mas também abre espaço para oportunidades em países com ganhos de eficiência e integração com o mercado de biocombustíveis.
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