Conversa pra mais de alqueirão
Imagine se fosse possível colocar todas as conversas realizadas sobre agricultura ao longo dos quatro dias do 15º Agronegócios Copercana em folhas impressas. Com certeza, ao empilhá-las, daria para percorrer os carreadores de todas as operações dos mais de seis mil cooperados.
Caravanas chegando de diversas regiões somadas aos produtores que foram de forma independente, mais os representantes comerciais e técnicos das empresas expositoras e o imenso time da Copercana, Canaoeste e Sicoob Cocred proporcionaram um volume de troca de informações que, com certeza, fez com que cada um saísse de lá um pouco mais conhecedor da matéria.
Além das conversas individuais e nas famosas rodinhas,a transferência de conteúdo também aconteceu através da realização de palestras, como a do produtor de Campo Florido, Daine Frangiosi, que no formato de um bate-papo de produtor para um público com mais de 200 pessoas, apresentou as melhores práticas de sua operação que o levou ao tão sonhado ganho de produtividade para além dos três dígitos.
Dentre os diversos assuntos tratados, dos quais sempre gerava o comentário de um fornecedor com o outro do lado, ele mostrou o seu trabalho com variedades, o qual desenvolveu um viveiro com 83 cultivares. E dentre suas conclusões, a de maior destaque foge das que sobem muito no censo, citando como exemplo a CTC-4 por aumentar o risco de infestação de pragas e doenças as quais é suscetível.
Ainda nessa parte da conversa, ele deixou todos de boca aberta e logo depois cabreiros ao mostrar uma variedade,filha da RB867515, desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa e que deve ser lançada em breve pela Ridesa.Denominada como RB127825, em seus primeiros ensaios realizados, ela apresentou, para a colheita no final de safra, uma produtividade de 300 toneladas por hectare e 180 quilos de ATR.
Ele também disse que faz testes com novas tecnologias e revelou avaliar o desempenho do Programa Genesis da FMC e também se a produtividade das variedades transgênicas responde o suficiente para suportar o custo dos royalties.
Outro ponto de vista técnico importante é quanto ao uso de nitrogênio foliar, o qual ele apresentou uma argumentação para abolir a sua prática. Para o produtor, o nutriente proporciona a entrada de pragas e doenças e, em seu lugar, ele indicou o uso do molibdênio e apresentou fotos bastante convincentes, mostrando a diferença do canavial com cada tipo de manejo. Na sequência, a Nutriex, empresa especialista em proteção dermatológica solar, fez uma interessante apresentação onde mostrou qual a melhor forma de uso dos protetores solares profissionais e também o que é a luva química, um creme para o trabalhador rural passar nas mãos que protege a pele contra a absorção de produtos como graxa, óleo diesel e querosene, que podem gerar quadros de dermatites.
A tarde da sexta-feira, último dia do evento, proporcionou aos participantes do programa de jovem liderança da Canaoeste a oportunidade de conhecer melhor a vida e bater um papo com ninguém menos que o presidente do Conselho de Administração da Copercana e um dos empresários mais respeitados do setor sucroenergético, Antonio Eduardo Tonielo; o diretor presidente executivo da Copercana, Francisco Urenha e o presidente da Canaoeste e filho do primeiro grande líder do gigante sistema formado pela cooperativa de consumo, de crédito e associação, Fernando dos Reis Filho.
O primeiro a contar sua história foi Tonielo, que relatou sua trajetória de trabalho desde a infância e cada passo dado na construção de um dos grupos mais sólidos do setor e também das duas cooperativas (Copercana e SicoobCocred) referências em seu segmento de atuação.
No bate-papo com os jovens, ele transmitiu valorosas lições de quem almeja crescer profissionalmente, como a de que é preciso lutar muito para conseguir vencer na vida, de não ter medo de fazer negócios e que erros sempre acontecerão, mas é fundamental acertar mais do que errar.
E talvez a mais importante de todas foi quando mostrou que é preciso ter seriedade e segurança no mundo dos negócios ao citar, como exemplo, que o começo da Copercana foi uma verdadeira luta para fazer as pessoas acreditarem na proposta. Contudo, em decorrência de sua seriedade, foi possível gerar resultados aos primeiros cooperados que, consequentemente, trouxeram outros, o que contribuiu para o crescimento da cooperativa.
Na segunda explanação, Urenha também fez uma revisão de sua carreira profissional dando enfoque para o momento em que decidiu trancar a matrícula no curso de Economia, quando já cursava o último semestre e com um bom emprego em São Paulo, para retornar à Serrana e apoiar o pai, que tinha uma indústria de implementos agrícolas e passava por sérias dificuldades financeiras. Ele contou que ao tomar a decisão teve que trabalhar
muito para conseguir salvar as contas do pai e também iniciar um novo negócio: o plantio e fornecimento de cana em terra arrendada, o qual ele não entendia nada. Nesse ponto, Urenha mostrou a importância da Copercana e da Canaoeste em seu processo de aprendizado e amadurecimento do negócio. “Me apoiei na Copercana e na Canaoeste, e nelas tive os parceiros fortes que precisava para conseguir vencer o imenso desafio que tinha estabelecido na minha vida”.
Ele concluiu com duas lições muito importantes, especialmente aos jovens que estão dando seus primeiros passos profissionais: a primeira de que é preciso sempre acreditar que vai dar certo, porque se começar com dúvidas, nada vai para a frente; e a segunda, para eles sempre procurarem pelo caminho certo, a forma correta de se trabalhar.
“A principal herança que tive do meu pai foi o seu caráter e sempre valorizei muito isso”.
Para finalizar o bate-papo, Fernando dos Reis Filho lembrou aos presentes que eles estão assumindo os negócios numa realidade totalmente diferente, com a tecnologia na roça. Contudo, alertou que se não tiverem firmeza no dia a dia, as chances de perderem são muito maiores.
Reis Filho ressaltou ainda os valores associativistas, principalmente da necessidade de uma união mais forte no setor para ganhar representatividade, pois de modo individualizado será muito complicado o desenvolvimento do todo.Com todas essas atrações e atividades ao longo dos quatro dias, é errado imaginar que ao chegar às 19 horas da sexta-feira toda aquela aura pulsante de informação simplesmente se esgotou ou sumiu no ar. Longe disso, o que aconteceu foi uma dispersão para todas as roças e um exemplo está em Água Comprida-MG, na propriedade do cooperado Fausto Antônio Ferreira, que desde a segunda edição adquire conhecimento junto com as boas compras.
Escrito por: Revista Canavieiros
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