Paisagismo sustentável – o que é?
Caro leitor, hoje o destaque será a respeito de um assunto diferente do que estou acostumado. Abordarei um pouco sobre o que é paisagismo sustentável. Parece um pouco óbvio, mas não, não é!
Quem vem acompanhando a Revista Canavieiros nos últimos meses pode ler e conhecer mais sobre o trabalho que está sendo desenvolvido pela Copercana. A temática abordada nesta edição faz parte de um dos projetos que estão sendo implementados pela cooperativa, denominado Copercana Sustentável, do qual a Canaoeste é uma grande apoiadora.
Foi criado um selo para formalizar e integrar os projetos das áreas ambiental, econômica e social em uma única marca, organizando os já existentes – que não são poucos – e criando outros que visam estruturar ainda mais a base sustentável da entidade. Todos estes projetos estão sendo comunicados através do selo Copercana Sustentável.
Em relação ao projeto tratado neste artigo, o Paisagismo Sustentável com plantas nativas do Brasil tem como objetivo trazer o melhor da natureza para perto de nós, conscientemente. A ideia do paisagismo só se mantém viável quando as áreas ambiental, social e econômica estão em perfeita sintonia.
Pode ser considerado de viés social, pois o paisagismo é sustentável, já que considera áreas onde o mesmo é realizado, em jardins, áreas verdes e permeáveis, como um espaço de educação ambiental para a população e colaboradores, criando uma integração ao ser humano e mostrando a nossa vegetação nativa tão esquecida atualmente.
É também economicamente viável, pois além de termos facilidade em encontrar as espécies nativas do Brasil por preços mais acessíveis quando comparados às espécies advindas de outros países, estas são daqui, verdadeiramente nossas, portanto, são facilmente adaptáveis ao clima e solo local, consequentemente gerando menos custos devido à menor manutenção em razão da mortandade das plantas nativas ser pequena quando comparada às plantas de outros países.
E, ambientalmente, o paisagismo é sustentável, pois opta por realizar plantios com o uso de plantas nativas e de relevância ambiental em espaços que antes eram destinados para outros fins. Além disso, o Brasil conta com uma variedade de biomas refletindo na biodiversidade do planeta, ou seja, uma enorme riqueza de fauna e flora.
Nesse sentido, possuímos mais de 43.000 espécies vegetais catalogadas em nosso vasto território, habitando planícies alagadiças, florestas extremamente úmidas, áreas campestres, regiões extremamente secas, formações savânicas ou de grandes altitudes, compondo, assim, os diferentes tons de verde do Brasil.
Depois de demonstrar um pouco da vasta biodiversidade tupiniquim, observo praças, parques, bosques, escolas, sítios, fazendas ou até mesmo no jardim de nossas casas, caminharem na contramão dessa magnífica variedade biológica, pois a grande maioria dos projetos paisagísticos utiliza plantas estrangeiras, ou seja, que não são nativas do nosso país.
Para agravar a situação, algumas plantas, além de serem exóticas, são invasoras, podendo inclusive prejudicar a fauna e flora nativa devido à agressividade desse tipo de planta, tornando-se um grande problema ambiental, igual se tornou a espécie popularmente conhecida como Leucena (Leucaena leucocephala), nativa do México, que hoje é um grande problema em centros urbanos por conta de sua alta proliferação e agressividade.
Voltando um pouco na história do paisagismo no Brasil, me pergunto por que não fomos acostumados a realizar plantios com mudas de espécies nativas em nossos jardins, por exemplo. A história explica que fomos culturalmente acostumados a ter medo das matas e florestas, pois grande parte das doenças se origina nesses ambientes, tais como: febre amarela, zika vírus, dengue, malária, dentre outras. Portanto, um dos motivos para tal trauma é que nenhuma pessoa em sã consciência quer levar essas doenças para próximo de si e, inconscientemente, associa as doenças às plantas, matas ou florestas nativas.
Outra questão a ser levantada é estarmos acostumados a assistirmos a filmes estrangeiros onde são mostrados jardins simétricos aos olhos, podados, com formas de animais, retangulares ou redondos, sem nada fora do lugar, como na França, Itália e outros países daquela região, o que é replicado em praças, canteiros, parques, shoppings centers, etc. A partir daí tentamos reproduzir esse mesmo conceito dentro de nossas casas e esquecemos do que realmente estamos plantando e/ou cultivando.
Perdemos o prazer de cultivar em nossas casas o que é nativo, bonito, barato, que nasce, cresce e se desenvolve ao sabor da natureza na beira das estradas, calçadas ou outros lugares comuns. Será falta de visão holística para enxergar beleza nas plantas nativas, ou então o que é comum?
Escrevendo este artigo, lembrei-me do quintal da casa de minha avó, onde existia um frondoso vaso de Avenca (Adiantum capillus) próximo do fogão à lenha, e percebo que esquecemos dessas plantas no paisagismo contemporâneo. Além desta, cito outros exemplos de plantas antes cultivadas e que hoje dificilmente são observadas: samambaia-de-mato-grosso (Phebodium decumanum), jabuticabeiras (Plinia cauliflora), cipó de São João (Pyrostegia venusa), plantas estas que caíram em desuso por puro modismo. Preferimos importar uma planta que é cultivada em Dubai, por exemplo, ao invés de cultivar um Palmito Juçara (Euterpe edulis) nativo da mata atlântica e atualmente em extinção.
“Somos ainda aqueles cariocas que no século XIX que, de casaca de lã e cartola, ficavam à beira da praia no calor de 40 graus olhando para o mar, na esperança de ser Europa e de costas para o Brasil” – Ricardo Cardim, paisagista e entusiasta do “paisagismo sustentável” no Brasil.
Na atualidade, o ser humano quer a cada dia estar mais conectado com a natureza. E não há nada melhor do que estarmos juntos de uma natureza que realmente é nossa, que fez e pode continuar fazendo parte da nossa história, só depende de nós mesmos!
Diante desse contexto vejo com excelentes olhos os novos projetos paisagísticos que estão sendo implementados pela Copercana (escritórios, pátios de movimentação, mercados, postos de combustíveis, loja de ferragens, BioCoop e etc.). Eles serão voltados à sustentabilidade, sendo cultivadas plantas nativas em áreas verdes, permeáveis e/ou jardins, valorizando as plantas do nosso Brasil, integrando-as com espaços comuns e sendo identificadas por placa, onde serão informados o nome popular, o nome científico e a origem de cada planta.
Nos prédios próprios que ainda tem vegetação exótica sendo utilizada para fins paisagísticos, esta será mantida até o seu perecimento natural e, posteriormente, substituída pela nativa.
Como as plantas cultivadas são nativas do Brasil, o custo de manutenção será menor, quando comparado a plantas estrangeiras, que não estão acostumadas ao nosso solo e clima, demonstrando sua maior sustentabilidade, que como dito anteriormente só se mantém de pé quando as áreas ambiental, social e econômica estiverem em perfeita sintonia.
Por: Fábio de Camargo Soldera – Eng. agrônomo e especialista ambiental da Canaoeste