Produtores de cana precisam construir narrativa positiva de combate aos incêndios

18/10/2024 16:17

Setor precisa fortalecer sua imagem e combater estigmas sobre queimadas agrícolas

Os produtores de cana-de-açúcar enfrentam, além dos prejuízos causados pelos incêndios, a constante acusação de serem os responsáveis pela propagação das chamas. Diante desse cenário, a construção de uma narrativa positiva, que destaque o fim das queimadas como método de colheita, torna-se essencial para afastar as suspeitas injustamente atribuídas ao setor.

Esse alerta foi feito por Almir Torcato, gestor executivo da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), durante o painel “Medidas Técnicas, Práticas e Jurídicas para Prevenir e Lidar com Incêndios nas Lavouras de Cana-de-Açúcar”. O evento foi realizado como parte do Fórum Usinas do Futuro, nesta terça-feira (16), no Agro Innovation Week, em Ribeirão Preto-SP.

Torcato destacou a gravidade dos incêndios que afetam a produção agrícola no estado de São Paulo, com consequências em toda a cadeia produtiva, desde os pequenos produtores até as grandes indústrias. Ele enfatizou que o setor evoluiu significativamente, deixando de utilizar queimadas. “Nosso setor evoluiu. Passamos de produtores de açúcar e álcool para um setor bioenergético que gera energia elétrica a partir da biomassa. Não faz sentido colocar fogo no campo quando podemos usar isso para gerar energia”, explicou.

Ele também ressaltou a necessidade de uma comunicação mais efetiva com a sociedade, para que o trabalho dos produtores seja devidamente compreendido. “Precisamos nos abrir para que as pessoas conheçam e entendam nosso trabalho”, afirmou. Segundo ele, a criação de uma narrativa positiva é fundamental para proteger a reputação do setor e combater preconceitos.

Em relação aos impactos financeiros, Torcato reconheceu a dificuldade de mensurar os prejuízos imediatos causados pelos incêndios, mas alertou que os efeitos de longo prazo serão significativos. “Hoje, não conseguimos quantificar os impactos financeiros com precisão. Estamos lidando com quebra de produtividade e os investimentos necessários para combater os incêndios”, afirmou.

Apesar disso, ele destacou a importância da colaboração entre produtores e indústrias no enfrentamento das chamas e no desenvolvimento de práticas mais sustentáveis. “Não somos mais nós e eles; somos todos parte de um mesmo esforço para superar esses desafios e construir um futuro sustentável”, concluiu.

Pedro Rocha, advogado do escritório Gotlib Massara Rocha Advogados, também participou do painel e ressaltou que a evolução da mecanização agrícola, que reduz a necessidade de queimadas, tem impactado as decisões judiciais sobre responsabilidade em casos de incêndios. “A complexidade do judiciário está mudando. A queimada não é mais necessária, e isso altera as decisões em relação ao risco criado pela produção de cana-de-açúcar”, afirmou o advogado.

Rocha também destacou que muitos incêndios afetam propriedades vizinhas que não produzem cana, o que gera disputas jurídicas sobre responsabilidade e indenização. “Os produtores frequentemente precisam provar que não foram responsáveis pelos incêndios, o que torna o cenário ainda mais complicado”, explicou.

Durante o encontro, Silvia Gurgel, representante da Fersol, apresentou a tecnologia Ombela, patenteada na Europa e amplamente utilizada pelo governo australiano no combate a incêndios florestais. A empresa está em processo de introdução dessa tecnologia no Brasil. “A Ombela, que significa ‘deusa da chuva’, se diferencia de outros retardantes de fogo, pois, enquanto muitos produtos apenas reduzem as chamas para facilitar o combate com água, a Ombela atua de forma inovadora, estressando o calor e extinguindo o fogo imediatamente”, explicou Gurgel.

Deixe seu comentário