Açúcar: safra, Índia e fundos podem redefinir cenário global

O mercado de açúcar fechou a última semana com uma perspectiva mais positiva, impulsionado por preocupações crescentes sobre a qualidade da cana-de-açúcar, o atraso na moagem e debates técnicos realizados em eventos do setor, como os encontros em Ribeirão Preto – SP.
“O otimismo refletiu-se nas cotações futuras em Nova York, com o contrato para maio/25 fechando a 19,19 centavos de dólar por libra-peso, um salto de 86 pontos (quase 19 dólares por tonelada) em relação à semana anterior. O movimento de alta se estendeu até outubro/27, com ganhos variando entre 34 e 96 pontos, enquanto o dólar encerrou a semana a R$ 5,7225, registrando leve valorização de 0,25% da moeda brasileira”, explicou o diretor da Archer Consulting, Arnaldo Luiz Corrêa.
Projeção de safra: entre a incerteza e a estratégia
Corrêa comentou que a grande questão nos eventos setoriais foi a estimativa da safra 2025/26, com previsões que variam entre 595 e 630 milhões de toneladas de cana. “O amplo intervalo reflete a dificuldade de previsão, com fatores como clima, produtividade, pragas e fenômenos como El Niño e La Niña influenciando as projeções. Diante da incerteza, algumas usinas estão optando por postergar o início da colheita, com rumores de que algumas podem começar apenas em maio”, ressaltou.
O consultor afirmou ainda que as usinas avançam na fixação de preços. “Em fevereiro, 3,25 milhões de toneladas foram fixadas a uma média de 18,19 centavos de dólar por libra-peso (R$ 2.449 por tonelada FOB-Santos). Com isso, o total fixado para a safra 25/26 já soma 25 milhões de toneladas, com um preço médio de R$ 2.489 por tonelada, indicando uma forte estratégia de hedge das usinas”, disse.
Olhar para o futuro: safras 2026/27 e 2027/28 já no radar
Segundo o consultor, a precaução das usinas se reflete também na fixação antecipada para safras futuras. Relatos apontam que algumas já estão travando preços até para 28/29, prevendo volumes mais altos e custos fixos diluídos, o que pode garantir margens operacionais mais robustas. Esse movimento é potencialmente influenciado pela curva do NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira), que sugere um cenário de menor taxa de juros e valorização do real, principalmente com as eleições presidenciais de 2026 no horizonte.
Impacto da Índia e volatilidade dos preços
De acordo com relatório da consultora, a Índia continua sendo um fator crítico para o mercado global. Se houver uma safra mais lenta no Centro-Sul brasileiro e uma revisão drástica nos estoques indianos, os preços podem sofrer grande volatilidade. O Brasil, que aumentou sua participação nas exportações globais de 46% para 61% em três anos, tem um peso considerável nesse equilíbrio. Uma redução na disponibilidade de açúcar pode fazer disparar os preços em Nova York, afetando o spread entre março e maio de 2026.
“Diante disso, consumidores industriais devem ficar atentos aos preços vantajosos de 2025 e 2026, garantindo contratos antes que uma possível reviravolta encareça o mercado. Afinal, poucos produtores conseguem vender açúcar abaixo de 18 centavos de dólar por libra-peso na atual conjuntura”, sugere Corrêa.
Movimentação dos fundos e análises técnicas
Ele comenta também que, segundo o COT (Commitment of Traders) da CFTC, os fundos não indexados seguem vendidos em quase 80 mil lotes, mantendo a mesma posição da semana anterior. No entanto, a forte valorização do mercado entre quarta e sexta-feira pode indicar recompras por parte dos fundos, uma hipótese que só será confirmada no próximo relatório.
“Do ponto de vista técnico, o contrato Maio-25, após testar a mínima da semana a 18,34 centavos de dólar por libra-peso, encerrou em 19,19 centavos. O real valorizado em 1,2%, fechando a R$ 5,74, pode dar suporte adicional ao mercado. O spread Outubro-25/Março -26 fechou a 32/31 pontos, e as médias móveis de 100 e 200 dias estão praticamente alinhadas ao preço de mercado. Se a média de 100 dias cruzar acima da de 200, o preço pode testar os níveis de 19,90, 20,57 ou até 21,65 centavos de dólar por libra-peso”, conclui.
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