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O perigo das geadas nos canaviais

Coluna Climática

O inverno de 2021 foi um dos mais frios dos últimos anos nas principais regiões sucroenergéticas das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Os institutos de previsão do tempo divulgaram com antecedência que uma forte onda de frio atingiria o país no final de junho e em meados de julho daquele ano. Todo o sistema produtivo da cana-de-açúcar ficou em alerta e passou a monitorar o ar polar que proporcionou geadas até mesmo no estado de Goiás. O mapa de temperatura mínima do ar para o estado de São Paulo, Figura 1, apresenta as mínimas observadas no dia 30 de junho de 2021. Neste mapa são observados valores negativos (azul escuro), em áreas sucroenergéticas de nossa região, indicando temperaturas extremamente baixas.

Conceitualmente, geada é o nome dado ao fenômeno meteorológico em que água sai do estado gasoso para o sólido sem passar pela fase líquida, este processo chama-se sublimação e ocorre quando a temperatura do ar está próxima ou abaixo dos 0ºC. A geada não é congelamento do orvalho.

Figura 1
Figura 1 – Mapa das temperaturas mínimas do dia 30 de junho de 2021.

Nas áreas sucroenergéticas de nossa região a ocorrência de geadas, eventualmente, podem ocorrer nas noites e madrugadas com baixas temperaturas, céu estrelado, vento calmo (um pouco de vento já pode quebrar a estabilidade do ar e proporcionar algum aquecimento) entre os meses de junho e julho, em decorrência da incursão de massas de ar frio de origem polar, a exemplo do que ocorreu nos dias 30/06/2021, como pode ser observado no mapa de temperaturas mínimas registradas no estado de São Paulo. No dia 30/07/2021, outra forte onda de frio atingiu a região de Ribeirão Preto e a mínima observada foi de -1oC, sendo na época a temperatura mais baixa observada em 20 anos, conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), situação esta que propiciou a fina camada de gelo observada nos canaviais da região, conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2
Figura 2 – Formação de geada em cana-de-açúcar na região de Ribeirão Preto- SP no dia 30/07/2021

Em relação à cultura da cana-de-açúcar está diretamente ligada à temperatura ambiente. Em temperaturas inferiores a 20°C e superiores a 35°C, o crescimento da cana começa a ser prejudicado, sendo praticamente nulo em temperaturas acima de 38°C. Porém, em situações de temperaturas extremamente baixas esta cultura de clima predominantemente tropical apresenta pouca tolerância.

As partes mais sensíveis da cana-de-açúcar são as folhas mais jovens e as gemas, e tais partes sofrem grandes danos quando a temperatura atinge valores abaixo de 0°C.

O impacto dos danos à cana-de-açúcar decorrente das baixas temperaturas leva em consideração alguns aspectos, como: a temperatura mínima atingida, tempo de exposição das partes sensíveis às baixas temperaturas e o estágio fenológico, ou seja, a fase em que a cultura se encontra.

Quanto mais intenso for o episódio de geada maior os danos à cultura, pois um maior número de gemas pode ser atingido, resultando em prejuízos econômicos, tendo em vista a redução da qualidade dos derivados da cana-de-açúcar.

Outra consequência dos eventos de geadas em nossa região que se observa semanas após a geada é o aumento das condições para a ocorrência de queimadas. A geada tende a secar a vegetação, o que somado a condição de tempo seco e temperaturas mais elevadas (situação comum em nossa região a partir do mês de julho) cria condições propícias ao fogo.

Dessa forma, a geada representa riscos de perdas consideráveis aos canaviais da região e a previsão e o monitoramento deste fenômeno pode auxiliar na redução de possíveis danos e prejuízos.

Fique de olho na temperatura ao nível da relva

Nos eventos de geadas é fundamental não somente monitorar as temperaturas do ar, mas também as temperaturas ao nível da relva. As temperaturas divulgadas pela imprensa e pelos principais modelos de previsão do tempo são aquelas coletadas a 1,5 m acima do nível do solo.

Na iminência de geadas, as temperaturas ao nível de 5 cm acima do solo também são importantes de serem acompanhadas, pois na maioria das vezes as temperaturas caem abaixo dos 0ºC próximo à relva, enquanto que logo acima podem estar 3 ou 4 graus mais quente.

Marcelo Romão – Especialista em Meteorologia e Analista de risco de fogo

Felipe Farias – Meteorologista especialista em extremos meteorológicos

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