O mercado de etanol hidratado e açúcar cristal apresentou nova retração no volume de negócios na semana encerrada em 23 de maio. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o comportamento cauteloso dos compradores, aliado à crescente oferta resultante da intensificação da moagem da cana-de-açúcar, tem impactado negativamente os preços e o ritmo das negociações no estado de São Paulo.

Etanol: demanda retraída derruba volume negociado em quase 50%

De acordo com o Cepea, o volume de etanol hidratado captado na última semana caiu expressivos 46% em comparação à semana anterior. O recuo reflete principalmente a postura retraída dos demandantes, que demonstraram maior seletividade e menor urgência na formação de estoques.

A intensificação da safra 2025/26 aumentou a pressão sobre os preços. Compradores ativos se aproveitaram da oferta crescente para negociar com maior firmeza, buscando fechar contratos a valores mais baixos. Essa estratégia surtiu efeito: algumas usinas cederam e ajustaram seus preços para baixo, facilitando a concretização dos negócios.

Como resultado, entre os dias 19 e 23 de maio, o Indicador CEPEA/ESALQ para o etanol hidratado (líquido de ICMS e PIS/Cofins) registrou queda de 0,81%, encerrando a semana cotado a R$ 2,6860 por litro.

O etanol anidro, por sua vez, seguiu tendência semelhante. O indicador CEPEA/ESALQ (também livre de tributos) recou 0,79%, chegando ao valor de R$ 3,1067 por litro. A retração reforça a percepção de que o mercado ainda busca um novo ponto de equilíbrio, com as negociações sendo travadas mais pela pressão de oferta do que por sinais de recuperação na demanda.

Açúcar cristal enfrenta pressão de baixa com consumo interno enfraquecido

O panorama do açúcar cristal no spot paulista segue igualmente pressionado. De acordo com levantamentos realizados pelo Cepea, a demanda doméstica segue abaixo do esperado, o que tem impedido reações positivas nos preços.

As negociações de grandes volumes para entrega imediata permanecem limitadas. Até mesmo os contratos futuros têm mostrado movimentação tímida, evidenciando o cenário de prudência generalizada no setor.

Nesse contexto, as usinas têm adotado uma postura mais flexível, revisando suas ofertas para se manterem competitivas. O destaque fica para o açúcar cristal Icumsa 180, que sofreu o maior impacto nas cotações. No período de 19 a 23 de maio, o Indicador CEPEA/ESALQ para o cristal Icumsa de 130 a 180 apresentou queda de 3,39%, com média semanal de R$ 134,14 por saca de 50 kg.

Mercado segmentado: Icumsa 150 resiste à tendência de queda

Apesar da pressão generalizada, nem todos os tipos de açúcar foram igualmente afetados. O açúcar cristal tipo Icumsa 150 manteve relativa estabilidade nos preços, sustentado por uma oferta mais restrita no mercado interno. Esse comportamento se deve ao direcionamento da maior parte da produção atual para o mercado externo, o que reduz a disponibilidade no spot doméstico e oferece suporte adicional às cotações.

Perspectivas de curto prazo: desafios continuam à frente

A combinação entre oferta em ascensão e uma demanda ainda morna coloca o setor em alerta. Os agentes de mercado observam atentamente os desdobramentos das próximas semanas, em especial o avanço da moagem nas usinas e possíveis alterações no comportamento dos compradores.

Embora os fundamentos ainda não apontem para uma inflexão imediata nos preços, a flexibilização comercial das usinas, somada a possíveis oscilações cambiais e novos dados de produção e exportação, pode alterar o cenário no curto prazo.

Resumo dos indicadores CEPEA/ESALQ (19 a 23 de maio):

Etanol hidratado: R$ 2,6860/litro (queda de 0,81%)

Etanol anidro: R$ 3,1067/litro (queda de 0,79%)

Açúcar cristal Icumsa 130–180: R$ 134,14/saca de 50 kg (queda de 3,39%)

Açúcar cristal Icumsa 150: preços mantidos firmes (sem recuo significativo)