Podcast da Canaoeste discute oportunidades e desafios do setor bioenergético na comercialização de créditos de carbono
Participantes avaliaram como ingressar no mercado de Créditos de Carbono
No cenário crescente da economia verde, os créditos de carbono surgem como uma ferramenta essencial para a sustentabilidade, e o Brasil tem grande potencial para se destacar nesse mercado. Foi com esse foco que o CanaoesteCast abordou o tema “Créditos de Carbono: Uma moeda verde para um futuro sustentável”, durante a 30ª edição da Fenasucro & Agrocana, na Arena de Sustentabilidade.
Estimativas apontam que o mercado de créditos de carbono movimentará cerca de 50 bilhões de dólares no Brasil até 2030, com o país tendo o potencial de atender 50% da demanda global. Porém, para que o produtor rural consiga aproveitar essas oportunidades, é fundamental estar preparado, principalmente no que diz respeito à digitalização dos processos e à criação de bancos de dados robustos, que reúnam informações detalhadas sobre a propriedade e o ciclo produtivo.
A edição especial do podcast contou com a participação de especialistas do setor: Olivaldi Alves Borges Azevedo, mestre em conservação da fauna; Marcelo Ferraz, CEO da GMG Ambiental; Rangel Romão, CEO da Ecofix; e Fabio Soldera, gerente de Sustentabilidade da Canaoeste. A moderação ficou a cargo da jornalista Daniela Golfieri.
O gestor ambiental da Canaoeste, Fabio Soldera, destacou o imenso potencial do Brasil no setor de descarbonização. Ele salientou que é crucial reconhecer o papel do produtor rural nas políticas e programas de captura de carbono já existentes, mas que o avanço ainda é lento. “Temos propostas em andamento, mas elas não avançam na velocidade que gostaríamos”, afirmou Soldera.
Ele também ressaltou a importância da organização setorial, especialmente na criação de bancos de dados. Soldera mencionou que o sistema de monitoramento de incêndios implantado pela Canaoeste em 2017 só foi possível graças ao banco de dados criado desde 2012, durante a implementação do CAR (Cadastro Ambiental Rural). “A organização do setor é primordial para que possamos atingir metas de políticas públicas, certificações e projetos de descarbonização”, explicou.
Rangel Romão enfatizou a capacidade da cana-de-açúcar em fixar carbono, estimada em 1,8 toneladas de carbono por hectare/ano, superando outras culturas como milho e soja. No entanto, ele também apontou que o processo de renovação do canavial resulta na perda significativa de carbono, o que representa um desafio para o setor. Romão sugeriu que essa questão pode ser mitigada com a adoção de novas tecnologias, como o uso de mudas pré-brotadas.
Outro ponto destacado por Romão foi o alto custo para a aprovação de projetos de crédito de carbono, o que pode desestimular produtores a ingressarem no mercado. “O custo de aprovação é elevado em comparação com o benefício inicial, o que torna o processo desafiador”, comentou.
Para Marcelo Ferraz, CEO da GMG Ambiental, a tecnologia desempenha um papel fundamental na inclusão de pequenos e médios produtores no mercado de créditos de carbono. “Há uma janela de imensas oportunidades para os produtores. Grandes empresas já adotam políticas de sustentabilidade e estão usufruindo dos benefícios. A tecnologia pode ajudar a inserir os pequenos e médios produtores nesse processo, organizando as informações necessárias”, afirmou Ferraz.
Olivaldi Alves Borges Azevedo lembrou que o Brasil é responsável por apenas 2% das emissões globais, mas enfrenta desafios significativos, especialmente no que tange ao desmatamento. “O Brasil tem 66% de vegetação nativa protegida em unidades de conservação e terras indígenas. O desmatamento é um problema que precisamos resolver”, ponderou Azevedo.
Ao final do debate, Fabio Soldera reiterou que a organização e digitalização dos processos são os principais fatores que permitirão ao produtor rural se beneficiar do mercado de créditos de carbono. “O produtor sabe plantar e colher, mas é papel das associações, como a Canaoeste, auxiliar na parte burocrática e na organização das informações, para que ele possa manter seu foco na produção”, concluiu Soldera.